A terra parece ter saído do seu eixo.
A sensação é que entrei numa montanha russa, em que as subidas e descidas serão inevitáveis. E não saber como vou chegar lá no final e nem quando, só piora a sensação de estar completamente fora do controle.
Eu não sou uma pessoa que ama emoções fortes e que fica ansiosa por surpresas, nem mesmo de um parque de diversões. É muito mais confortável quando posso ler sobre, falar com alguém e perguntar tudo que eu puder antes de decidir embarcar em qualquer aventura.
A humanidade pós-moderna está vivendo algo único, sem precedentes e real. Acordei num novo mundo em que não dá para pensar que estou num parque. É sobre a vida e as necessidades humanas mais básicas que estamos falando.
Então as perguntas difíceis começam a ficar sem respostas claras e é preciso lidar com o inesperado. A minha saúde e daqueles que eu amo pode estar ameaçada; nosso lugar de ganha-pão precisa ser fechado; preciso aceitar me isolar para que todos fiquem mais seguros.
E agora o TODO passa a ser mais importante do que EU? O que pode acontecer com o modo como sempre vivi a vida?
É hora de ser otimista ou pessimista; de esquerda ou de direita; profeta ou discípulo; obediente ou teimoso; consciente ou inconsequente? Ah já sei, o negócio é manter a minha mente como eu já vinha pensando sobre tudo, antes dessa crise mundial e polarizar: me defender, gritar “salve-se quem puder”e apenas continuar sendo quem sempre fui.
Talvez a saída para aliviar essa pressão emocional seja apenas repetir sem refletir. Abro os olhos para possibilidades de aprender algo novo que possa ajudar ou só me deixo amortecer? Pode ser que o melhor mesmo seja falar o que já estava na minha cabeça, antes da ameaça pelo novo vírus chegar.
Valorizar ou ignorar a avalanche econômica? Vou me enganar? Não, acho melhor crer, quem sabe agora até me convencer. Buscar uma religião, uma crença ou um manual de sobrevivência no caos.
Pode ser também que firme minhas convicções de que detenho a verdade sobre tudo e me recuse a ponderar, ouvir, pensar e conversar, refletir dá muito trabalho e pode me cansar. Acho que devo avaliar os meus ganhos e perdas e só escolher.
Puxa percebi que a dúvida não me deixa confortável. Já sei, vou olhar para aqueles que admiro e repetir, imitar; assim é mais fácil e pode me acalmar.
Desperto dos cochilos no isolamento pensando: estou mesmo vivendo isso tudo ou é um filme de ficção? Se for quero ser o mocinho, porque bandido já têm demais por aqui. Alguns usam armas e outros até palanques!
A pergunta que realmente não me sai da cabeça no meio disso tudo: quem sou eu hoje? Será que vale a pena interiorizar, meditar, mergulhar em conhecer um eu novo que surge em meio ao desconhecido? Pelo menos para essa pergunta eu tenho resposta e você?
Gisele Cipili.