Era Março de 2020 e o mundo parou, ou melhor fechou para balanço. Alguns dizem que a mãe terra mandou a humanidade para a “cadeira do pensamento”.
Nesse contexto, mais precisamente na segunda semana após decretada a quarentena eu já comecei a ter pesadelos em que meus queridos mais próximos morreriam. Foi muito tenso.
Enquanto eu lidava com a minha própria instabilidade diante das incertezas, também era alvo daqueles que fielmente trabalham ao nosso lado em duas clínicas de especialidades odontológicas em que sou a diretora de RH. Os meus familiares, os clientes de coaching, mentoria e consultoria, todos sem respostas pareciam esperar que eu pudesse falar algo confortante, afinal tenho fama de ser corajosa em momentos de crise. Pensei que talvez pelo menos fazer boas perguntas seria importante e precisei me equilibrar para tornar isso possível. Marquei reuniões “me fiz um ouvido bem grande” e acolhi os medos com empatia e amor.
Foi quando numa manhã, depois de uma noite emocionalmente difícil, eu acordei assustada de novo, mas agora decidida a cuidar de mim. Motivada pela necessidade urgente do momento, busquei por lembranças em que tinha feito essa tarefa de autoamor. Lembrei da minha adolescência e do quarto rosa. Uma deliciosa e surpreendente memória depois quase trinta e cinco anos passados.
Aquele foi meu segundo quarto na vida, ele tinha móveis tubulares rosa e um aconchegante design romântico. A colcha, cortinas e as almofadas eram de cetim branco e tudo em formato de corações. Ah que sensação gostosa invadiu meu peito inquieto e com medo. Era a lembrança doce do início, com a empolgação, e as expectativas de uma vida toda pela frente – os meus quinze anos. Precisava ter um lugar para interiorizar meus sonhos e questionamentos, isso era muito importante pra mim. Esse espaço para dormir e refletir foi um presente da minha mãe, ele era um quarto cheio de significados e era rosa.
Voltamos ao mês de Março em 2020 com suas incertezas, compras desenfreadas de papel higiênico e o efeito manada da pandemia. Nessa manhã peculiar na minha história sabia que não poderia ir ao escritório trabalhar e as rotinas de morar, comer, trabalhar, conviver em casa já começavam.
Onde estava o meu lugar de interiorizar para manter a sanidade e as minhas conversas comigo mesma? Comecei a me sentir sem espaço apesar do conforto e uma vida da qual agradeço muito. A questão era o meu eu, e sensação de que haviam “bolhas”que precisavam sair de uma garrafa de água com gás. A garrafa era o meu coração. Eu tinha que mergulhar num espaço interior e encontrar conforto para deixar sair o que borbulhava dentro de mim.
O mundo ao meu redor estava em modo emocional de sobrevivência. O meu quarto de casal e o escritório da casa acomodaram muito bem as demandas conjugais e familiares mas não tinham espaço para acolher a minha alma. Nenhum lugar era seguro, fora ou dentro de casa, pois o espanto e as incertezas penetravam a mente como um gás ruim se espalhando por toda parte.
Algumas semanas depois soube que os home centers abririam então acordei decidida: vou pintar um quarto extra do ático de rosa. Todinho rosa e o rosa clássico, aquele dos anos 1985 época da minha adolescência. Em 3 dias ali estava ele, pintado e arrumado, ou melhor, instantaneamente decorado. A minha cabeça precisava de refúgio e o nome dele agora de novo era Quarto Rosa.
Isso significava que quando estivesse agitada eu poderia dormir aqui e me reservar para uma solitude planejada. Nele posso me dar o direito de romantizar e ter esperanças enquanto desfruto do acolhimento desse refúgio na pandemia. Aqui eu sinto que posso viajar no tempo com meus livros e navegar em pensamentos sem culpa ou medo, posso apenas sentir meu precioso silêncio.
“Gostaria que você soubesse que existe dentro de si uma força capaz de mudar sua vida. Basta que lute e aguarde um novo amanhecer”.
Margaret Thatcher
Agora estou em Setembro, quase na estação da primavera. Significa que o inverno está passando e vou sentindo os efeitos de uma alma que foi lavada, enxaguada e torcida.
Também já me percebo mais acolhida e cuidada por mim. Entre noites de leitura, escrita, reflexão e oração no meu local de, o meu Quarto Rosa.
E você onde e quando reserva momentos consigo mesma? Consegue refletir sobre o quanto isso é importante? Conte comigo.
Afetuosamente.
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