Quando eu crescer.

Por toda a minha infância morei numa cidade pequena. Naquele lugar agradável todos se conheciam e as nossas famílias faziam suposições de tudo umas sobre as outras, inclusive o que os filhos seriam quando crescessem. Meus pais queriam que eu fosse médica. Mas enquanto brincava com as amigas e bonecas, me lembro de ter apenas uma vontade: ser mãe.

Na adolescência comecei a pensar no meu processo de independência e sonhava em sair da cidade pequena para estudar na capital.

O meu pai era inteligente, curioso e maravilhoso e me incentivava a ser como ele, curiosa sobre como o corpo humano funcionava – ele quis ser médico mas sua condição familiar nunca permitiu. Sempre encontrávamos em nossas conversas um ponto em comum sobre saúde enquanto líamos matérias interessantes nas Seleções (revista importante da época)e nas Enciclopédias (o Google Vintage hehe).

Aos dezessete anos finalmente havia chegado a minha vez, fui em busca da carreira dos sonhos. Como você deve imaginar é claro que não foi nada fácil. Na verdade foi muito mais difícil do que eu acreditava nos meus sonhos de criança. O curso pré-vestibular e os questionamentos da adolescência foram mais do que eu consegui aguentar. A minha família passava por uma séria crise em vários âmbitos e me vi diante da realidade: Se tudo der errado aqui para onde eu volto?

Passando por um turbilhão de emoções me perdi sobre quem eu era, sonhava e sentia. Foram anos difíceis. A força para aguentar veio de amigos que me deram a mão e o ombro. Foi quando decidi manter a escolha pela área da saúde e cursei odontologia por quase três anos.

Então a grande virada aconteceu e interrompi o curso para nunca mais voltar, quando fui mãe aos 22 anos.

 

 

Dali em diante a vida se transformou.

Experimentei uma espécie de restauração em que tudo fazia sentido. Ter responsabilidade por um bebê naquele momento me curou.

Nas noites embalando meu filho percebi que ser mãe era um talento natural e característica pessoal mais evidente em mim. Sempre me senti útil e importante enquanto cuidava deles.

Nos meus vinte e cinco anos o segundo filho estava em meus braços também. Tudo era perfeito porque eu podia ser mãe com a oportunidade de fazer isso em tempo integral.

Os anos passaram e aproveitei cada momento; filmando os treinos de futebol, brincando de lama na chuva, correndo atrás dos carneiros na chácara, levando e buscando na escola, educando e assistindo as conquistas dos meninos.

O que eu não sabia é que filhos crescem, ou melhor, eu preferia ignorar essa realidade.

 

 

Foi quando mesmo sendo a mãe dedicada, esposa parceira, líder em projetos para a comunidade local – percebi que não existe “ vida perfeita”.

A realidade é que os filhos cresceriam, voariam, os objetivos familiares mudariam e eu? Como continuaria me sentindo importante e útil nessa terra? Os anos estavam passando e diante desse questionamento eu sabia que poderia ser assombrada pelo fantasma da depressão.

A pergunta com a qual eu dormia e acordava era, quem sou eu como indivíduo e qual o meu lugar no mundo?

Então voltei à faculdade aos 36 anos ( entre colegas de turma na faixa dos 20 anos) resolvi voltar a sonhar.

Nesse tempo em que os filhos se tornavam adolescentes e precisavam de melhores escolas, nos mudamos para Curitiba. Saímos de uma cidade pequena em que eu tinha a casa dos meus sonhos, a comunidade que nos respeitava, um negócio familiar estável, para experimentar viver em Curitiba por um ano. Sim, esse era nosso acordo como casal, depois os filhos já estariam adaptados e nós voltaríamos para a vida pacata que sempre tivemos. Não voltamos, ficamos e continuei investindo na área intelectual da minha vida. Conclui o meu curso superior na Universidade Tuiuti, fiz pós-graduação e formações técnicas em desenvolvimento humano.

Então ali estava eu, cidade nova, sem amigos e um caminhão de responsabilidades familiares para dar conta, era uma boa combinação de fatos estressantes. Nesse momento me redescobri forte, determinada e assumi que diante de desafios é possível desenvolver a resiliência necessária para seguir adiante e despertar para propósitos universais como: crescer, criar, conviver e transcender.

Aos quarenta anos fui a oradora na colação de grau coletiva do curso de Pedagogia. Fico emocionada até hoje com a lembrança de admiração e amor nos olhos dos meus filhos e marido naquela cerimônia.

Estou agora no ano de 2.019 e me pego escrevendo novas linhas na mesma história, mas com a identidade fortalecida e o propósito consolidado. Os capítulos se entrelaçam e complementam quem sou. Se minha vida fosse um livro a capa seria: “O que você precisa viver para descobrir quem é?”

Ah ainda não acabou! em 2.010 resolvi fazer minha “limonada” empreendendo em um negócio próprio na área da Educação Corporativa. Já se passaram nove anos desde então. Conquistei a tão desejada expertise profissional e realização pessoal na área de treinamento e coaching com resultados incríveis, clientes maravilhosos e muitos amigos.

 

 

E têm mais haha!

O bichinho do empreendedorismo está sempre me mordendo. Então idealizei o Programa Me Inspira, em que mulheres promovem eventos e conversas corajosas para compartilharem vida, conhecimento e fazer conexões relevantes.

Promovemos questionamentos que por consequência geram responsabilidade pessoal, autoconhecimento e naturalmente resultam em protagonismo na vida e carreira.

Parafraseando o título desse texto: O que sou quando cresci?

Vivo novos despertares de quem fui, sou e ainda posso me tornar.

Sigo com a coragem que aprendi a ter: arriscando amar, conviver, errar ou acertar.

Sempre que possível, diante da arte da vida, escolho a empatia, o amor à Deus e ao meu próximo como a mim mesma.

Um afetuoso abraço!

Gisele Cipili.

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