Lembro-me que tinha uns 8 ou 9 anos de idade e era considerada uma criança sensível e “muito ativa”, como dizia orgulhosamente meu amado pai. Ele fazia observações pertinentes sobre o meu perfil. E mesmo sendo um leigo das ciências biológicas e humanas, ele foi um homem muito intelectual e curioso, acima da média para a ocupação profissional como bancário, que exerceu por 35 anos. Graças a ele a educação é uma paixão para mim até hoje.
Fui descobrir ao longo da infância e adolescência que o incentivo para que eu me tornasse uma profissional da saúde, vinha dos sonhos dele, em não ter ido além na sua formação acadêmica. O incentivo do meu pai foi positivo para o meu desenvolvimento, porque mesmo não tendo concluído o curso de Odontologia na juventude, eu gabaritava as provas de anatomia e fisiologia. Desempenhos que impulsionaram-me a ter coragem quando precisei descobrir quem seria “na fila do pão”, com esse perfil ainda não cientificamente identificado como multipotencial. Sou formada como professora pedagoga, especialista em Gestão de pessoas, especialista em Neurociências, estudiosa da andragogia, teologia e compaixão. Admiradora da arte e que ainda chora quando assiste um concerto de boa música clássica. Existem sim , como eu, pessoas multipotenciais e que são conhecidas principalmente pela mente criativa e inovadora. Geralmente conseguem enxergar o mundo de um jeito mais amplo à partir dos conhecimentos que adquirem em diferentes áreas. Apesar da Psicologia apresentar esse conceito de forma mais científica, ele ficou conhecido alguns anos atrás por causa do TED da Emilie Wapnick: Porque é que alguns de nós não têm apenas uma verdadeira vocação. Emile é uma Multipotencial nata. Assista o TED dela, é no mínimo interessante. Principalmente para quem se reconhece com essas características de pensamento amplo sintetizar ideias; aprendizado rápido; adaptabilidade e grande curiosidade intelectual. Diferente dos super especialistas, que se debruçam em detalhes que podem fazer a diferença, os multipotenciais abrem o foco e enxergam a peça que estava faltando no quebra-cabeças. Mas nem tudo são flores no cérebro de pessoas com esse perfil. Corremos mais riscos de não terminarmos o que começamos; de sentirmos ansiedade além da conta; não ocuparmos um padrão linear no “modelo industrial” das pessoas bem sucedidas, e pior, podemos ser vistos e julgados injustamente pelos diferentes de nós, que afirmam: todos nascemos e morreremos apenas para uma carreira em toda a vida. Pessoas que pensam de forma limitada sobre as inteligências humanas, afetam profundamente a autoconfiança e estima pessoal dos multipotenciais ao seu redor.
Carl Jung disse certa vez que “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”. O contexto dito pode ter sido filosófico ou ideológico, mas posso me apropriar da frase para amparar uma coragem de ser diferente e original na forma de pensar e trabalhar?
Precisamos estar conscientes de quem somos e como funcionamos, concorda? Ainda mais nesse momento de mundo como sociedade pós-moderna. Vivemos a super exposição informacional e as constantes mudanças nos ambientes profissionais. Qual é então a nossa melhor chance de nos mantermos mentalmente saudáveis num contexto mundialmente turbulento? Adaptações na carreira podem não ser viáveis diante da forte demanda por produtividade e performance, e tudo bem!
É quando entram em cena as intervenções simples e que estão totalmente disponíveis no dia a dia: os hobbies são um bom exemplo. Cultivar atividades não-profissionais é assumir a responsabilidade de gestão pessoal para ter uma mente mais saudável, criativa e feliz. Os hobbies relaxantes e manuais, por exemplo, como jardinagem, tricô ou pintura, ativam áreas de planejamento, o córtex motor e áreas associadas à redução do estresse e relaxamento.
Quando queremos melhorar os músculos do corpo buscamos a academia. Mas e o cérebro, por que limitamos a sua capacidade de relaxar e de aprender coisas novas? Ele precisa ser exercitado. Experimente novas atividades despretenciosamente e quando achar que está fazendo muito bem aquilo, “Não aceite Encomendas”, mude para outra atividade e continue desafiando-se para a beleza da multipotencialidade humana.
Obrigada por me acompanhar nesta breve coluna semanal. Que não tem a pretenção de ser um artigo ou um documento com dicas e instruções para a sua vida. Escrever é uma dessas intervenções simples e que podem se tornar um prazer. O meu é estar aqui com você numa conversa em que direciono a minha intenção de manter o cérebro ativo, compartilhando conhecimento e história de vida!
P.S. Sou uma defensora voraz das diferentes capacidades e inteligências humanas, constate por si mesmo o que diferentes estudiosos vem pesquisando sobre isso: matéria da revista Super Interessante https://super.abril.com.br/especiais/a-polemica-das-multiplas-inteligencias/.
Um abraço afetuoso, Gisele Cipili.