“Estamos vivenciando uma revolução tecnológica que modificará a forma que vivemos, trabalhamos e nos relacionamos; em uma escala de alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o gênero humano já experimentou antes.”Frase do economista alemão Klaus Schwab, no seu livro: A Quarta Revolução Industrial -2.017.
Há várias abordagens de impacto que definem e destacam o papel das emoções na tomada de decisões no contexto de complexidade e ambiguidade atual e, consequentemente, no ambiente organizacional. Entre essas abordagens, temos autores e pesquisadores na psicologia, em algumas éticas filosóficas, na sociologia, espiritualidade e na neurociência. Para a neurociência, minha área de especialidade, a expressão utilizada quando o tema são padrões e respostas emocionais aos estímulos é chamada de emocionalidade.
Emocionalidade está relacionada à forma como uma pessoa responde às exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções. É uma tendência geral de uma pessoa em experimentar e expressar emoções.
A gestão da emocionalidade no ambiente de trabalho é um tema cada vez mais relevante. Pessoas que lidam bem com situações estressantes, geralmente são mais conscientes de si mesmas e tendem a ser mais motivadas, engajadas e resilientes. Por outro lado, a falta de gestão emocional pode levar a conflitos, estresse e baixo desempenho.
Vejamos alguns dados que confirmam tendências alarmantes sobre o tema:
Alta Prevalência de Transtornos Mentais:
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), transtornos mentais como depressão e ansiedade são comuns no Brasil. Estima-se que cerca de 11% da população brasileira sofra de transtornos mentais, o que reflete a necessidade de uma abordagem proativa nas organizações para lidar com essas questões. Além disso, projeta-se que, em 2030, a saúde mental será a principal causa de afastamento do trabalho.
Impacto da Saúde Mental no Trabalho:
Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que problemas de saúde mental, advindos de estresse não gerenciado, têm um impacto significativo na produtividade e no absenteísmo.
Custo Econômico:
Estudos, como o relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), destacam o alto custo econômico associado a problemas de saúde mental, como ansiedade e burnout, incluindo o aumento do absenteísmo e a redução da produtividade. Esses custos podem ser significativos tanto para as empresas quanto para a economia como um todo.
Cultura Organizacional e Saúde Mental:
Pesquisas indicam que muitas empresas ainda enfrentam desafios para integrar a saúde mental em suas práticas de gestão. A Câmara Brasileira de Gestão de Pessoas (CBGP) revelou que, embora haja uma crescente conscientização, muitas organizações ainda lutam com tabus e falta de informações para implementar programas efetivos de prevenção em saúde mental no trabalho.
Legislação e Políticas Públicas:
No Brasil, a Lei Brasileira de Inclusão e outras políticas públicas promovem a saúde mental e a inclusão no ambiente de trabalho. A Lei nº 13.431/2017, por exemplo, aborda a proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais, refletindo um esforço legislativo para melhorar as condições de trabalho para esses indivíduos.
Crescimento de Programas de Saúde Mental:
De acordo com a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), há um aumento na adoção de programas de saúde mental nas empresas. Isso inclui treinamentos de liderança, oferta de suporte psicológico, terapia e iniciativas educacionais para reduzir o estigma associado a problemas de saúde mental.
Esses dados e tendências ressaltam a importância crescente de abordar a saúde mental no ambiente de trabalho no Brasil. As organizações estão cada vez mais abertas a criar ambientes de trabalho saudáveis, implementando políticas de bem-estar mental para seus funcionários. Mas ainda resta-nos perguntas para reflexão:
Como compreender e lidar de forma eficaz com as dinâmicas da emocionalidade no ambiente de trabalho?
Aprender sobre a importância das emoções e reconhecer que elas desempenham um papel significativo na dinâmica organizacional é um ótimo começo. Diante desses desafios, o desenvolvimento humano e organizacional, através de capacitação em gestão da emocionalidade por meio de programas de treinamento intencionais e focados, fortalece as pessoas na capacidade de lidar com situações desafiadoras. O objetivo central é elevar a resiliência: uma habilidade-chave que pode ser desenvolvida.
Os programas efetivos visam desenvolver lideranças mais preparadas e empáticas. Essa estratégia da área de recursos humanos, está entre os aspectos centrais de transformação para uma cultura de prevenção ao estresse e promoção do bem-estar emocional nas organizações. Líderes exercem uma influência significativa na criação de ambientes de confiança e apoio. Investir em desenvolver líderes que promovam uma cultura organizacional que valoriza a expressão emocional autêntica, através de diálogos compassivos e feedbacks construtivos é fundamental para uma gestão eficaz da emocionalidade no trabalho. Fomentar um clima positivo e acolhedor entre as pessoas favorece a colaboração, a inovação e o engajamento.
Em ambientes de trabalho caracterizados pela complexidade global e pela diversidade de desafios internos (emoções) e externos (exigências de mercado), a gestão da emocionalidade pode ser considerada um diferencial competitivo para as organizações. Em resposta aos desafios, o desenvolvimento humano e organizacional eficaz prioriza a compreensão e o fortalecimento das habilidades emocionais dos colaboradores, entendendo o impacto do bem-estar tanto na satisfação no trabalho, no respeito ao ser humano e no necessário crescimento econômico das empresas. Portanto, investir na gestão da emocionalidade no trabalho é investir no desenvolvimento integral das sociedades por meio da construção de organizações mais sustentáveis, resilientes e humanizadas.
Gisele Cipili